Quando Ronaldo Fenômeno jogou pelo Corinthians entre 2009 e 2011, já no fim da carreira, os torcedores que iam ao estádio vê-lo em ação não esperavam uma performance idêntica ao período em que ele estava no auge. Ronaldo estava gordinho, era mais lento mas, mesmo assim, ainda fazia jogadas sensacionais e marcou gols que entraram para a história do clube.
Com a banda novaiorquina Kiss, que se apresentou neste sábado, 30, para 45 mil pessoas em São Paulo, foi a mesma coisa. A voz de Paul Stanley foi vacilante e Gene Simmons, com seus mais de 20 quilos de figurino, pouco se movimentou no palco, mas eles ainda continuam fazendo valer cada centavo do ingresso.
Dava para dizer que o show foi um espetáculo musical e com visual grandioso, bem planejado e cronometrado, exatamente como todo mundo esperava. Até que um inseto pousou no microfone de Paul Stanley.
O vocalista e guitarrista ficou intrigado, pediu para todo mundo olhar, passou alguns segundos observando o inseto de perto, sorriu, acenou e até perguntou o nome do bicho, sem resposta.
De longe parecia um gafanhoto ou esperança. Na plateia ele ficou conhecido como grilo mesmo.
No show do @kiss em SP, pousou esse bicho ai no microfone do @PaulStanleyLive e essa foi a reação kkkk
Destaque pra galera gritando “grilo, grilo, grilo” pic.twitter.com/rp7gWg3DUr— Elb (@elber333) May 1, 2022
(Pelo menos foi um só, e não uma turma de insetos, como no show de Paul McCartney em Goiânia em 2013).
Foi um breve momento fora do script em um show que teve todos os truques que os fãs já conheciam, e mesmo assim vibraram ao presenciar: cuspe de fogo e sangue, voos no palco e por cima da plateia, luzes e fogos sem economia.
O Allianz Parque estava lotado – segundo a assessoria de imprensa, foram 45 mil pessoas. A Pista Premium tinha maioria de homens de meia idade e muitos casais. Ninguém ligou para o chuvisco que caiu no começo e no fim do show, que durou quase duas horas.
Em teoria, essa é a turnê de despedida do Kiss após quase cinquenta anos de carreira. Difícil acreditar, visto que eles já se despediram antes.
De todo jeito, o tom de adeus torna o show ainda mais legal, como quando imagens antigas da banda se misturam à filmagem do show em músicas como “Do you love me”, “Cold gin” e “Shout It out loud”.
O único milagre que a tecnologia não pode fazer, infelizmente, é rejuvenescer a garganta de Paul Stanley, aos 70 anos. O esforço para cantar é cada vez maior, a voz dá umas rateadas, mas não dá para culpar o cantor. Pelo contrário – ele tem energia de sobra.
Entre vários momentos emocionantes, o ponto alto é quando Paul voa sobre o público preso a uma corda e vai para um segundo palco no meio da plateia, puxando antes de sair o coro de “I was made for loving you”.
Como de costume, há os solos apoteóticos de Tommy Thayer (guitarra) e Eric Singer (bateria). E, claro, a voz, o baixo, a presença imponente e os cuspes de fogo e sangue de Gene Simmons.
A banda já se apresentou em Porto Alegre e Curitiba e ainda vai a Ribeirão Preto no domingo (1). No meio do show, Paul Stanley lembrou que essa é a sétima vez deles São Paulo. O capricho na produção, o esforço da banda e o grilo ajudaram a fazer da repetição uma noite especial.
Em uma entrevista a Revista Veja, Paul Stanley justificou o fim da banda.
Se tocássemos com jeans e camisetas, poderíamos fazer turnês até os 90 anos. Mas carregamos 20 quilos de figurinos cada um. Em algum ponto vai ficar impossível. Precisamos parar com nosso melhor, maior e mais bombástico show da história”, diz ele.
Em uma outra entrevista, desta vez para a revista americana Entertainment Tonight, Gene Simmons, que tem 72 anos, afirmou que Beyoncé não conseguiria fazer um show com essa mesma produção. De fato, ver um grupo de setentões no palco, com um figurino pesado e fazendo um espetáculo para lá de circense, impressiona. Quando eles se aposentarem, nem Beyoncé, nem ninguém, vai conseguir substituí-los.
Confira abaixo o set list e a galeria de fotos
- Detroit Rock City
- Shout It Out Loud
- Deuce
- War Machine
- Heaven’s on Fire
- I Love It Loud
- Say Yeah
- Cold Gin
- Solo de guitarra de Tommy Thayer
- Lick It Up
- Calling Dr. Love
- Tears Are Falling
- Psycho Circus (até o solo)
- Solo de bateria de Eric Singer
- 100,000 Years (apenas o final)
- Solo de baixo de Gene Simmons
- God of Thunder
- Love Gun
- I Was Made for Lovin’ You
- Black Diamond
Bis: - Beth
- Do You Love Me
- Rock and Roll All Nite
Credito Videos: Igor Miranda
Credito Fotos: @elber333 (Twitter)