Atleta do ciclismo mountain bike, do esqui cross country e do biatlo (combinação do esqui cross country com o tiro esportivo), Jaqueline Mourão possui oito participações em Olimpíadas – somando edições de verão e de inverno – e, aos 46 anos, ainda sonha com mais um ciclo olímpico.
“O desafio sempre foi um prato cheio pra mim, e isso me levou a esses esportes inéditos e a fazer história no meu país”, diz, em entrevista exclusiva à coluna do Papo de Mina.
O slogan do seu Instagram não mente. É a atleta mais olímpica do Brasil, e se orgulha de ser a pioneira do país no mountain bike feminino nos Jogos Olímpicos; a primeira brasileira a competir no biatlo, nas Jogos de Inverno; e a primeira mulher a representar o Brasil nas Olimpíadas de verão e de inverno.Um currículo caprichado, que começou em 2004, nos Jogos de Atenas, na Grécia.
Bastante jovem quando iniciou no ciclismo, Jaque lembra que quando deu as primeiras pedaladas o esporte ainda não era tão popular quanto hoje, e que muitas vezes era a única mulher do grupo. “Eu era muito novinha, tinha que me esforçar para seguir o pelotão e não ficar para trás. Fui aprendendo muito nas trilhas de Minas Gerais até ser pioneira”.
Os exemplos eram poucos na sua época, mas hoje a veterana serve de inspiração para muitas mulheres que entram para o ciclismo, inclusive as que descobrem o prazer do esporte mais tarde. “São meu combustível”, define a atleta, que ainda deixa um recado motivacional: “admiro e estimulo mesmo as pessoas a escutarem a voz interior e buscarem o que faz sentido pra elas, sempre respeitando seu limite, seu processo, e focando na sua evolução”.
Tinha uma neve no meio do caminho
Apesar de respirar esporte desde muito nova, praticar outras modalidades não estava nos planos de Jaqueline. O esqui cross country, por exemplo, entrou na sua vida “por puro acidente da natureza”, segundo sua própria definição.
“Estava no Canadá no mês de maio e caiu uma tempestade de neve tardia. Ou eu ficava em casa ou eu ia esquiar, porque estava tudo branco e não tinha como pedalar. E eu fiquei apaixonada, porque tem muito a ver com mountain bike, estar em contato com natureza, subindo e descendo montanha. O branco, deslizar e toda paisagem maravilhosa me encantaram e eu comecei a buscar informações”, explica. Este “acaso” rendeu cinco participações em Olimpíadas de Inverno – Turim 2006, Vancouver 2010, Sochi 2014, PyeongChang 2018 e Beijing 2022.
O biatlo, que une o esqui ao tiro, veio depois, mas em um momento muito especial da vida de Jaqueline – durante a sua gravidez. “Eu não dormia a noite inteira, amamentando, e no dia seguinte tinha que ir treinar. Virava a chave e era a Jaque atleta, depois a Jaque mãe”.
A experiência, que ainda dependia de um longo deslocamento até o clube de tiro e cuidados físicos, foi desafiadora, mas ela garante que valeu a pena. “Consegui escrever meu nome novamente em outra modalidade”. A atleta competiu nos Jogos de Sochi, em 2014, e segue como a única brasileira que já disputou o biatlo em Olimpíadas.
Barreira da idade
“Por incrível que pareça, estou só melhorando ainda”, garante Jaqueline, ao ser questionada sobre o impacto da idade no seu desempenho. Aos 46 anos, ela está longe de pensar em parar, e argumenta que apesar de estar envelhecendo, está melhorando em outras áreas, como a parte técnica e psicológica.
“46 anos hoje é muito diferente dos 46 anos da época da minha mãe. As mulheres estão cada vez mais conquistando espaço, e quebrando barreiras de idade em várias áreas. Eu confirmei isso com um artigo que saiu na Noruega, de que a mulher perde somente 3% de performance até os 50 anos”, explica.
E como alguém movida a desafios, o adeus ao esporte está longe de acontecer. Jaqueline se prepara para mais um ciclo olímpico, sob a alegação de que a chama de querer superar os limites permanece acesa. “Não vivo queda de performance. Vem de dentro, sou ainda uma apaixonada que quero ultrapassar meus limites, melhorar minhas marcas, então faz sentido pra mim seguir. Esse é o objetivo”, finaliza.